Huna usá IA para detecção precoce do câncer por meio de um simples exame de sangue
Como uma startup brasileira salva vidas usando exames de sangue para o diagnóstico precoce do câncer de mama
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Para pacientes com câncer, o tempo é o recurso mais precioso. A diferença entre a detecção precoce e um diagnóstico tardio pode ditar o curso do tratamento e a probabilidade de sobrevivência. Cânceres em estágio avançado exigem tratamentos mais intensivos e caros, exercendo uma imensa pressão tanto sobre os pacientes quanto sobre os sistemas de saúde.
No Brasil, um país de dimensões continentais com a população mais geneticamente diversificada do mundo, o acesso a exames preventivos é extremamente limitado. No contexto do câncer de mama, por exemplo, 80% das brasileiras em idade de rastreamento não realizam mamografias, o que significa que o volume de casos não diagnosticados apresenta um problema sistêmico e urgente para a saúde pública.
Foi essa realidade que inspirou Vinicius Ribeiro, Daniella Castro e Marco Kohara a fundar a Huna em 2022. Cada um deles teve razões profundamente pessoais para a criação da deeptech brasileira. Daniella viu um potencial inexplorado nos dados de exames de sangue de rotina após o diagnóstico de câncer de uma amiga; Vinicius estava frustrado com pesquisas que nunca se refletiam em avanços práticos, e Marco, que perdeu a mãe para o câncer, acreditava que a IA poderia levar o rastreamento da doença às populações desassistidas.
O uso do hemograma no rastreamento do câncer
A missão da Huna é, ao mesmo tempo, simples e audaciosa: transformar um hemograma completo padrão, um dos exames de sangue mais comuns e acessíveis, em uma ferramenta escalável de rastreamento do câncer. Ao treinar modelos de IA com dados de mais de 1 milhão de mulheres — conectando resultados de hemogramas a resultados confirmados de câncer —, a startup descobriu padrões sutis no sangue que indicam a doença — muito antes do aparecimento dos sintomas. Para validar sua abordagem usando dados do mundo real, a deeptech firmou parcerias com instituições de saúde renomadas, como o Hospital de Amor e o Grupo Fleury.
Potencializando a solução da Huna com IA
A equipe da Huna aproveitou o apoio personalizado dos programas AI Academy e Accelerator do Google for Startups para reduzir o tempo de treinamento do modelo de IA em 50%. Isso permitiu uma interação mais rápida e respostas mais ágeis a novas necessidades clínicas. As mentorias ajudaram a Huna a estabelecer sistemas de dados robustos e operações de modelo — críticos para a construção de IA confiável na área da saúde. Além disso, os créditos do Google Cloud foram essenciais para testar as soluções da startup de forma escalável, sem custos iniciais. Com o apoio do Gemini, acessado via Vertex AI, a Huna conseguiu otimizar a padronização e interpretação de grandes volumes de exames, como hemogramas e laudos, o que otimiza a expansão e o desenvolvimento de produtos, mesmo com uma equipe reduzida. O uso do Agent Development Kit (ADK) também permite a criação rápida de protótipos de programas inteligentes.
“Antes, lidávamos com a complexidade de rotular exames manualmente e criar regras extensas para cada tipo de câncer. Com o Gemini, conseguimos uma acurácia tão boa ou até melhor e de forma muito mais rápida, escalando nossa capacidade de desenvolver produtos para diversos tipos de câncer simultaneamente”, enfatiza Daniella Castro.
Pesquisa científica como ponto central para o crescimento
O impacto desse trabalho já está sendo sentido. A tecnologia da Huna permitiu a antecipação de diagnósticos identificando até duas vezes mais casos de câncer de mama em um grupo de quase 400 mil pacientes. Sua base de dados em crescimento inclui mais de 5 milhões de registros únicos de pacientes, cobrindo quase duas décadas de histórico clínico — o que confere aos seus modelos uma base poderosa e representativa. Em um projeto-piloto com a Secretaria de Saúde do Nordeste, no sistema público de saúde, a Huna está levando sua tecnologia para 100 mil pacientes, demonstrando o seu potencial para impulsionar mudanças em grande escala. A IA da deeptech identificou um grupo de alto risco com mais probabilidade de desenvolver câncer de mama do que o esperado, permitindo que os prestadores de serviços agissem mais cedo e com maior precisão.
O rigor científico tem sido uma peça central para a estratégia de crescimento da Huna. Em maio de 2024, a Nature publicou um estudo de coautoria dos fundadores, que se tornou um dos 100 artigos mais lidos do ano. Pesquisas validadas por especialistas como essa não apenas confirmam a tecnologia da deeptech, mas também constroem credibilidade duradoura com profissionais da saúde, pesquisadores e lideranças políticas. "Enquanto outros apostam em soluções caras e restritas, nós desenvolvemos uma tecnologia que permite que laboratórios e instituições ao redor do mundo entrem em uma nova era do rastreamento oncológico - mais inteligente, acessível e baseada em exames simples, que eles já possuem", explica Vinicius Ribeiro.
A missão da Huna não para no câncer de mama. A startup já expandiu sua atuação para incluir câncer de colo de útero e colorretal, publicando novos estudos e apresentando resultados em grandes conferências médicas. Sua visão de longo prazo é apoiar toda a jornada de tratamento do câncer — da detecção precoce ao tratamento personalizado — com IA, que ajuda a priorizar biópsias, prever recorrências e otimizar terapias.
A equipe da Huna não está apenas desenvolvendo novas tecnologias, está moldando o futuro de um sistema de saúde mais equitativo e escalável. Ao transformar exames de sangue de rotina em ferramentas de alerta precoce, a deeptech está ajudando a construir um mundo onde a detecção do câncer é mais inteligente, rápida e acessível a todos.